quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Vida de cão



1ª Semana.
Hoje faz uma semana que nasci.
Que alegria ter chegado a esse mundo!!!

1 Mês.
Minha mamãe cuida muito bem de mim.
É uma mãe exemplar.

2 Meses.
Hoje me separaram de mamãe.
Ela estava muito inquieta e com seus
olhos me disse adeus, esperando que
minha nova família humana cuidasse bem
de mim como ela havia feito.

4 Meses.
Cresci muito rápido, tudo chama a
minha atenção.
Há várias crianças na casa que são
como meus irmãozinhos.
Somos muitos levados, eles me jogam uma
bola e eu os mordo jogando.

5 Meses.
Hoje me castigaram, minha dona se
zangou porque fiz pipi dentro da casa,
mas nunca me disseram onde eu
deveria fazer.
E como eu durmo na recamar
(deve ser um lugar fechado*)
e...! eu não me agüentei!!!

6 Meses.
Sou um cão feliz. Tenho o calor de um
lar, sinto-me seguro e protegido..
Creio que minha família humana me
ama muito...
Quando estão comendo me convidam,
o pátio é somente para mim e eu estou
sempre cavocando, como os meus
antepassados lobos quando escondiam
a comida.
Nunca me educam, seguramente
porque nada faço de errado.

12 Meses.
Hoje completei um ano.
Sou um cão adulto e meus donos dizem
que cresci mais do que eles esperavam.
Que orgulhosos devem estar de mim!!!

13 Meses.
Como me senti mal hoje...
Meu irmãozinho tirou a minha bola.
Como nunca pego seus brinquedos
fui atrás dele e o mordi.
Mas como meus dentes estão muito
fortes, machuquei-o sem querer.
Depois do susto me prenderam e quase
não posso me mover para tomar um
pouco de sol.
Dizem que sou ingrato e que vão me
deixar em observação
(certamente não me vacinaram)...
não entendo nada do que está acontecendo.

15 Meses.
Tudo mudou... vivo preso no pátio...
na corrente...sinto-me muito só...
minha família já não me quer.
Às vezes esquecem que tenho fome
e sede e quando chove não tenho teto
que me cubra...

16 Meses.
Hoje me tiraram da corrente,
pensei que tinham me perdoado...
Fiquei tão contente que dava saltos de
alegria e meu rabo parecia um molinete...
Parece que vou passear com eles...

Subimos no carro, atrelamos o carreto
e andamos um grande trecho quando
pararam.
Abriram a porta e eu desci correndo,
feliz, crendo que era dia de passeio
no campo.
Não entendo porque fecharam a porta
e se foram...

Esperem!! lati... esqueceram de mim...!!
Corri atrás do carro com todas as
minhas forças... minha angústia aumentou
ao perceber que o carro se afastava e eles
não paravam.
Tinham me abandonado...

17 Meses.
Procurei, em vão, achar o caminho de
volta para casa.
Sento-me no caminho, estou perdido
e algumas pessoas de bom coração que
me olham com tristeza e me dão algo
para comer...
Eu agradeço com um olhar do fundo
de minha alma...
quisera que me adotassem, eu seria
leal como ninguém.
Porém eles apenas dizem pobre
cãozinho, deve estar perdido

18 Meses.
Outro dia passei por uma escola
e vi muitas crianças e jovens como
meus irmãozinhos.
Cheguei perto e um grupo deles, dando
risadas, atirou-me uma chuva de pedras
para ver quem tinha melhor pontaria...
uma dessas pedras atingiu um dos
meus olhos e desde então não enxergo
com ele.

19 Meses.
Parece mentira, mas quando eu estava
mais bonito as pessoas se compadeciam
mais de mim...
Agora que estou muito fraco, com um
aspecto bem mudado...perdi meu olho,
as pessoas me tratam a pontapés quandopretendo deitar-me na sombra...

20 Meses.
Quase não posso me mover.
Hoje, ao atravessar a rua por onde
passam os carros, um deles me atropelou.
Pelo que sei, estava num lugar seguro
chamado sarjeta, mas nunca vou me esquecer
do olhar de satisfação do motorista.

Oxalá tivesse me matado...
porém só me deslocou a cadeira.
A dor é terrível, minhas patas
traseiras não me respondem e com
dificuldade me arrastei até uma moita
de ervas fora da estrada...

Já fazem 10 dias que estou embaixo de sol,
chuva e frio, sem comer.
Não posso me mover, a dor é insuportável.
Sinto-me muito mal, estou num lugar úmido
e parece que meu pelo está caindo.
Algumas pessoas passam e não me vêem;
outras dizem: "não te aproximes!"
Já estou quase inconsciente, porém uma força
estranha me fez abrir os olhos.

A doçura de sua voz me fez reagir.
Pobre cãozinho, veja como te deixaram
dizia... junto a ela estava um senhor de
roupa branca que começou a tocar-me e disse:
Sinto muito senhora, mas esse cão já não tem
remédio, o melhor é que deixe de sofrer.
A gentil dama consentiu, com os olhos cheios
de lagrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela
agradecendo por me ajudar a descansar...
Senti somente a picada da injeção e dormi para sempre,
pensando em porque nasci,
se ninguém me queria...

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