quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A carta

Eu poderia ouvir os passos da tristeza que andava ao seu lado sem dificuldades. Isso, se já não estivesse muito ocupada a observando. Cabeça baixa e olhos desanimados. Lágrimas pesadas, carregadas de arrependimentos, rolavam por aquele rosto delicado, que há poucos meses atrás só se via sorrir. Como é que um só homem, consegue arrancar tantas alegrias de um coração, sem fazer ao menos esforço? Não sei. Nunca entendi como ele conseguiu transformar aquela doce menina, nesse poço de preocupações. Mas, por enquanto, só uma coisa era certa: Marina estava paranoica. E o que todos sabem, não muda nesse caso. O ciúmes não dá espaço para a razão. Já fazia um tempo que as brigas por conclusões precipitadas eram freqüentes, e os sofrimentos sempre vinham como consequência
Ainda me lembro o que ocorreu há dois dias atrás: Ela havia prometido a si mesma manter a calma diante de tais desconfianças. Acontece que na tarde anterior não se segurou, e ao ver um fio de cabelo no boné de Murilo, enlouqueceu. Gritou, xingou, bateu. Pela milésima vez, terminou seu relacionamento. E minutos depois, pela milésima primeira vez, se desculpou e disse estar arrependida. Foram para casa juntos, calados. Nos pensamentos, ainda não haviam acabado aquela discussão. Em vários desses passos que deu em direção ao lar, ela desejou voltar a questionar. Para ela não tinha explicação, mas preferiu se calar, pois sabia que na tarde seguinte completariam  oito meses juntos.
É ai que volto para o acontecido. Aniversário de namoro, oito meses de brigas e pertubações que, para ela, era amor. Marina saiu do trabalho com a cabeça cheia de idéias, mas no fim, resolveu fazer um jantar. Comprou várias coisas e decidiu passar na lanchonete onde seu amado trabalhava. Chegando lá, Murilo não estava, e os outros garçons disseram que ele não havia ido trabalhar naquele dia. Pronto. Olhos enfurecidos e coração apertado, ela saiu dali com fogo nos pés. Andou, andou, andou. E eu assistia tudo de longe. Depois de um bom tempo, desistiu da procura. Foi para casa, e chegando lá, um bilhete a esperava no canto da mesa. 



 
Amassou o papel e os seus olhos se encheram de lágrimas. Era o fim. A vida não tinha mais sentido. Chorou, gritou... E logo em seguida, ficou sem reação. Ela já não sabia mais o que fazer. Foi ai que a vi caminhar.
Cabeça baixa e olhos desanimados. Lágrimas pesadas, carregadas de arrependimentos. Parou em frente à lagoa central, e sem pensar duas vezes, se jogou. Várias pessoas estavam ali, e todas tinham a mesma dúvida. Queriam saber se eu ia a carregar comigo, ou se ela iria ser salva por alguém. Cheguei a esperar um pouco, não queria carregar tão doce criatura nos meus braços tristes e sombrios. Mas, ninguém tentou ajudar. 
Então, carreguei a moça e a trouxe comigo. Viemos juntas, e deixamos para trás todas as preocupações e problemas, deixamos para trás sua vida. Daqui em nte, não sei o que irá acontecer com Marina. Por enquanto, só uma coisa era certa: A vida de Murilo nunca mais será a mesmo

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